Estudo liga substância da carne vermelha a risco de doença cardíaca


Carnitina vira composto TMAO, que influencia metabolismo de colesterol.
Mecanismo observado por pesquisadores depende da flora intestinal.

Do G1, em São Paulo
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Carne vermelha (Foto: Reprodução/TV Tem)Carne vermelha (Foto: Reprodução/TV Tem)
Estudo publicado na revista “ Nature Medicine” relaciona uma substância encontrada na carne vermelha, chamada carnitina,  com um maior risco de doenças cardíacas. Os autores verificaram que a carnitina é digerida por bactérias encontradas no intestino humano, favorecendo a produção do composto N-óxido de trimetilamina (TMAO), que pode  influenciar o metabolismo de colesterol e diminuir o ritmo de remoção das placas de colesterol que se acumulam nas paredes das artérias.
Uma questão importante nesse novo estudo é que ele aponta que, em relação à produção de TMAO,  a composição da flora intestinal é tão importante quanto o consumo de carnitina. Os pesquisadores deram carne a 77 voluntários, incluindo 26 que são vegetarianos. Em nome da ciência, um deles até aceitou comer um bife de 200 gramas.
Os testes mostraram que a carnitina, quando consumida por alguém que come pouca carne, não aumenta tanto os níveis de TMAO no sangue, provavelmente porque tem menos bactérias que produzem essa substância em seu intestino.
Os pesquisadores verificaram essa possibilidade dando carne a camundongos e observaram que os roedores apresentavam o dobro de risco de ter placas nas artérias quando tinham o intestino normal. Quando tratados com um antibiótico para matar as bactérias que produzem o TMAO, o risco de terem placas de colesterol diminuiu.
Os cientistas ainda verificaram que, dentre 2.600 prontuários médicos analisados, os que tinham maiores índices de doenças cardíacas eram os das pessoas que apresentavam altos índices de carnitina e TMAO. Isso é mais uma evidência que corrobora que o problema está na digestão de grandes quantidades de carnitina por pessoas que costumam consumir carne, mais do que a carnitina por si só.
Stanley Hazen, chefe de medicina cardiovascular da Cleveland Clinic, um dos autores da pesquisa, disse que o levantamento pode servir para indicar uma nova abordagem à alimentação. Os microorganismos intestinais podem ser tão importantes quanto os nutrientes que ingerimos, explicou ao site da “Nature”. “As bactérias produzem uma grande variedade de moléculas a partir da comida e estas podem ter um efeito imenso sobre nossos processos metabólicos”, disse.
Hazen ainda alertou para o consumo de suplementos alimentares à base de carnitina, que prometem aumentar a energia, melhorar a performance esportiva e a perda de peso. “Nada disso foi comprovado. Não vejo nenhum motivo para que alguém tome isso”, afirmou, também ao site da “Nature”.

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